Venom 3: a Última Rodada (2024)
- Douglas Moutinho
- 3 de nov. de 2024
- 2 min de leitura
Venom desfecha dignamente a história do anti-herói

Um filme possui várias motivos para existir. Algumas obras se sustentam pela sua profundidade filosófica, outras dialogam com a própria história do cinema ou veem no experimentalismo o sentido de sua feitura. No entanto, o filme é também um produto, e em um âmbito mercadológico, o produto deve gerar lucro. É uma verdade que muitos idealistas tendem a ignorar, por conveniência ou crença, mas não há como negligenciar o óbvio.
Nessa lógica, vários filmes inseridos na dinâmica do blockbuster se utilizam de convenções consideradas certeiras no sentido de gerar divertimento. Experimentalismo, inventividade e profundidade dramatúrgica dão lugar a uma estética naturalista facilmente captada pelo espectador, o uso convencional de todos os elementos da linguagem cinematográfica e as vezes até exposição exagerada dos seus temas. Tais escolhas afastam o filme de ser considerado o que alguns denominam como “cinema de arte” (embora eu não concorde com esse termo, o usarei para fins didáticos).
Vejamos. O espectador que deseja consumir um filme como entretenimento, uma fuga da realidade, uma descontração, não está errado em buscar efeitos especiais, uma história bem explicada que não gere dúvidas e questionamentos e não agregue peso e dificuldade à própria existência, pois a vida já é difícil o suficiente. Brecht e Godard chamariam hoje isso de cinema burguês, pois ele entregaria o que os romanos chamavam de panem et circenses (o pão e circo), e seriam auxiliadores da manutenção do status quo social.
Não cabe a mim questionar em poucas linhas Brecht e Godard, mas acredito que algumas linhas para defender um cinema mais desprendido de intelectualidade faz-se necessário. Não acho que o cinema deva ser sempre assim, mas acho que há lugar para uma boa ação e boas risadas as vezes. O problema é quando só existe isso e quando se atribui valor apenas no mais rentável. Isso seria um grande problema.
Dentro dessa lógica, não podemos atribuir qualidade a um filme com métricas utilizadas ao abordar Ozu ou Bresson, mas acredito que caiba mais aqui uma análise do que o público espera e se isso é entregue. Em um filme como Venom 3: a Última Rodada, o público espera uma digna continuação para as aventuras de Venom e Eddie Brock, boas sequências de ação, desenvolvimento do protagonista e ampliação o universo. O filme entrega isso, fazendo, acredito, que o público saia satisfeito do cinema. Boas sequências de ação, a mesma comicidade presente nos filmes anteriores e um desfecho para a trilogia que mantém os parâmetros dos primeiros filmes. Venom 3 é um filme que diverte e distrai, e em muitos casos, é só disso que buscamos.




