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Perrengue Fashion (2025)

Uma Comédia Ambiental Entre o Riso e a Superfície

Perrengue Fashion (2025) | CRÍTICA

Perrengue Fashion parte de uma premissa simples e contemporânea: o embate entre uma influenciadora digital voltada ao consumo e um jovem militante ambiental. Nesse encontro de mundos, o filme propõe discutir temas urgentes como sustentabilidade, superficialidade das redes sociais e as fissuras geracionais. Mas apesar do potencial temático, o resultado final entrega uma comédia que hesita entre provocar reflexão e satisfazer o gosto imediato do público, resultando em um produto irregular, com lampejos de crítica social, mas sem coragem de ir até o fim.

A trama acompanha Paula Pratta, influenciadora de moda e estilo de vida. Prestes a participar de uma campanha de Dia das Mães ao lado do filho, Cadu, estudante de uma prestigiada universidade americana, Paula vê seus planos desmoronarem quando ele abandona tudo para se dedicar ao ativismo ecológico na Amazônia. A viagem de Paula até o interior do Brasil é também uma jornada simbólica: da superfície do consumo à densidade do mundo natural e, inevitavelmente, ao confronto com os próprios valores.

Em seu eixo narrativo central, o filme é assumidamente maniqueísta. Paula representa o mundo do consumo e da vaidade performada, enquanto Cadu é o defensor de uma ética ambiental quase idealizada. Essa polarização, embora didática, tem sua eficácia, especialmente por apontar para o abismo entre dois modos de existir no mundo contemporâneo. No entanto, essa clareza se dilui na parte final do filme, que escolhe o caminho fácil da conciliação: relativiza o discurso ambientalista anteriormente exaltado e assume um tom conciliador, onde todos os lados “têm sua razão”. Trata-se de um recuo dramático que enfraquece o impacto das discussões propostas no início e esvazia o potencial crítico da obra.

Essa escolha é coerente com a lógica da comédia mainstream, que evita o desconforto em nome de finais satisfatórios e universais. A estrutura do gênero é respeitada: os personagens “bons” têm seus conflitos resolvidos, o tom permanece leve, e as consequências mais duras são evitadas. Isso não seria necessariamente um problema, não fosse o fato de Perrengue Fashion ter nas mãos um material que permitiria mais ousadia, especialmente em um país como o Brasil, onde o debate sobre o meio ambiente e os limites do consumo são tão urgentes quanto complexos.

Perrengue Fashion é um filme que propõe mais do que realiza. Sua tentativa de juntar comédia urbana, crítica ambiental e drama familiar rende um entretenimento agradável, mas sem o vigor que o tema exige. A escolha por uma abordagem leve e conciliadora torna o filme acessível, mas também limita sua potência reflexiva. No fim, é uma obra que acerta em levantar questões, mas hesita quando precisa enfrentá-las com profundidade. No entanto, mesmo que o discurso ambiental surja simplificado, ele pode funcionar como ponto de partida para debates mais profundos fora da sala de cinema, o que, por si só, é um mérito considerável.


Perrengue Fashion (2025) | CRÍTICA

 
 

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