Premonição 6: Laços de Sangue (2025)
- Douglas Moutinho
- 31 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 1 de jul.
A expansão do universo da morte
Em um cenário cinematográfico saturado por franquias e continuações, a demanda por inovação narrativa se impõe como um dos maiores desafios para roteiristas. Diferentemente dos anos 2000 período em que o público frequentemente aceitava passivamente a repetição de fórmulas narrativas, especialmente no gênero do horror , o espectador contemporâneo parece exigir abordagens mais criativas e coerentes. Hoje, no entanto, esse tipo de repetição tende a ser menos tolerado, o que exige das roteiristas estratégias mais refinadas de reinvenção narrativa.

Nesse contexto, Premonição 6 representa uma tentativa clara de revitalizar uma franquia já conhecida por sua estrutura repetitiva, centrada na inevitabilidade da morte. Embora o apelo visual continue sendo um dos atrativos centrais, esta nova entrada busca um diferencial ao investir na ampliação do universo ficcional da saga.
Premonição sempre se destacou pela engenhosidade com que elementos cotidianos desencadeiam mortes elaboradas, transformando o banal em fonte de tensão. Contudo, o sexto filme da série se propõe a mais: não apenas repetir essa lógica, mas reconfigurá-la. Ao invés de atuar de forma imediata após a ruptura da ordem prevista, a morte, aqui, se volta para indivíduos que sequer deveriam ter nascido filhos de pessoas que escaparam da morte em eventos anteriores. Essa abordagem confere à franquia um novo nível de complexidade e estabelece um elo mais direto entre as consequências do passado e os desdobramentos do presente. Se, por um lado, esse conceito amplia a mitologia da série, por outro, exige uma suspensão de descrença ainda maior por parte do espectador, uma vez que o tema "fuga da morte" não consegue manter total coerência interna.

Apesar de certas fragilidades no roteiro, Premonição 6 demonstra competência em construir um filme que, dentro dos limites do plausível, oferece uma narrativa relativamente coesa. A escolha de alterar o papel do protagonista agora representado por Stefanie, que não tem a premonição original, mas sim um sonho com a visão de sua avó é um recurso criativo que introduz novas camadas emocionais à história. A personagem, ao perceber que a morte persegue sua linhagem familiar, mobiliza uma luta não apenas pela própria sobrevivência, mas pela preservação de suas raízes.
Em termos estéticos, o filme mantém a tradição da série ao apresentar mortes engenhosamente coreografadas, com uso expressivo de efeitos visuais e sonoros. Contudo, o aspecto mais notável desta nova entrada é o aprofundamento do universo ficcional da franquia. Trata-se do capítulo que mais se dedica à expansão conceitual da lógica da morte, conferindo densidade a uma narrativa que até então se estruturava quase exclusivamente em torno de seu aspecto episódico.
Premonição 6 representa uma tentativa relevante de reinvenção dentro de uma franquia marcada pela repetição estrutural. Apesar de tropeços pontuais na verossimilhança e na condução do enredo, trata-se de uma das entradas mais ambiciosas e conceitualmente interessantes da série. Como tal, merece atenção tanto do público quanto da crítica, especialmente no contexto atual em que o esgotamento das fórmulas tradicionais parece exigir, cada vez mais, ousadia criativa.




