Lilo & Stitch (2025)
- Douglas Moutinho
- há 4 dias
- 2 min de leitura
Atualizado: há 1 dia
Mais um produto da máquina de nostalgia hollywoodiana
O novo Lilo & Stitch (2025), refilmagem em live-action do clássico animado da Disney de 2002, é mais uma engrenagem na máquina de reciclagem de memórias afetivas que domina o cinema comercial atual. Embalada pela aparência do afeto, a produção não se compromete com nada além da reprodução exata de um enredo já conhecido, com os mesmos diálogos, os mesmos conflitos e as mesmas soluções agora apenas recobertos por uma camada de realismo digital.

Ao contrário do que se poderia esperar de um novo olhar sobre a história da garotinha havaiana e seu alienígena desajustado, o filme parece ter medo de qualquer desvio. Tudo segue milimetricamente o desenho original, como se inovar fosse um risco desnecessário.
Não há qualquer tentativa de transformar a linguagem da animação em algo próprio do live-action. As escolhas visuais, a direção de atores e a trilha sonora soam como simulações não há verdade ou urgência ali, apenas a tentativa de replicar sensações já vividas pelo público. O problema é que sensações não se reproduzem como arquivos. O que antes encantava pelo inusitado e pela expressividade estilizada da animação agora ressurge como uma encenação fria, previsível e sem alma.
Esse tipo de remake não visa ampliar o significado da obra original, mas sim explorá-la até o esgotamento. Não se trata de reimaginar, mas de repetir. Não há curiosidade artística, só a tentativa de transformar cada pedaço da infância do público em produto vendável mais uma vez. É um cinema que serve mais aos algoritmos do que à sensibilidade humana.
É sintomático que esses projetos surjam em série, com prazos apertados e fórmulas replicadas. São filmes que parecem feitos por comitês, não por artistas. A emoção é medida, o roteiro é conhecido, o impacto é calculado. O resultado é uma obra funcional ou seja, incapaz de provocar, sugerir ou expandir o que já se conhece. Apenas serve, apenas entrega.

No caso de Lilo & Stitch, esse esvaziamento é ainda mais triste, porque o original era justamente sobre personagens que não se encaixavam em moldes prontos, que lutavam contra o abandono e buscavam um lugar no mundo. Agora, essas mesmas figuras retornam enlatadas num produto que se recusa a ser diferente. O que era estranho, agora é domesticado. O que era vivo, agora é empacotado.
Ao final da sessão, o sentimento que fica não é o de reencontro, mas o de repetição. Não se trata de homenagem, mas de imobilização. Lilo & Stitch (2025) não nos convida a revisitar uma história querida ele apenas nos lembra que, no cinema de hoje, a repetição virou regra, e a criação, exceção.
Era Zé Fernandes, um jurado do Silvio Santos, que queimava qualquer candidato que aparecia no programa?