Invocação do Mal 4: o Último Ritual (2025)
- Douglas Moutinho
- 20 de set.
- 2 min de leitura
Um legado encerrado entre sustos previsíveis e o peso da própria mitologia
Invocação do Mal 4: o Último Ritual chega com a promessa de encerrar uma das franquias mais populares do terror moderno. Desde 2013, o universo baseado nos arquivos sobrenaturais de Ed e Lorraine Warren, interpretados por Patrick Wilson e Vera Farmiga, cultivou uma base sólida de fãs, misturando jump scares eficientes com um verniz de respeitabilidade histórica e afetiva. No entanto, este quarto e último capítulo se vê preso entre a tentativa de honrar seu legado e a dificuldade em reinventá-lo.

O que mais se destaca neste desfecho não é o terror em si, mas a insistente ênfase em temas familiares em especial a ideia de legado. A narrativa força a continuidade simbólica da missão dos Warren através da filha do casal e seu noivo, deslocando, em diversos momentos, o foco do horror para um drama familiar. A tentativa de humanizar os protagonistas veteranos agora envelhecidos e emocionalmente marcados pelas décadas de confrontos com o sobrenatural é compreensível, mas o equilíbrio entre emoção e medo nem sempre é bem dosado.
Nesse sentido, o filme ecoa não apenas o envelhecimento dos personagens, mas o próprio desgaste da franquia ao longo dos anos. Ao tentar "entregar o melhor" e ainda soar inovador, O Último Ritual acaba revelando justamente a dificuldade de se sustentar criativamente após tantos derivados e expansões. Mas há algo de respeitável em sua tentativa de resgatar a essência original da saga: o medo doméstico, silencioso, centrado em casas assombradas e presenças invisíveis. Nesse retorno ao terror mais íntimo, o filme procura costurar conexões com os primeiros filmes e com o universo estendido dos Warren e consegue.
Contudo, o longa tropeça ao tentar vender uma narrativa maior do que realmente oferece. A distribuição e o marketing apelam para frases de impacto que prometem o "pior caso" enfrentado pelos Warren ou o evento que teria feito o casal abandonar as investigações. Nada disso se concretiza em tela. O confronto com as "entidades misteriosas" nunca alcança a potência das ameaças dos dois primeiros filmes dirigidos, vale lembrar, por James Wan, cuja ausência aqui pesa mais do que nunca.
O filme é indiscutivelmente superior ao morno Invocação do Mal 3, conseguindo oferecer um encerramento mais digno ao casal protagonista. E é nesse ponto que a obra encontra algum valor: na ideia de encerramento e na sensação de dever cumprido.
No fim, O Último Ritual parece menos interessado em aterrorizar do que em concluir. Sua maior assombração não está nos demônios, mas na sombra de si mesmo de uma franquia que cresceu mais do que devia, expandiu-se além da conta e agora tenta, com alguma dignidade, fechar as cortinas. O resultado é um filme que, mesmo sem grandes novidades, entrega o que promete a quem acompanhou a jornada até aqui: uma despedida que, se não arrepia, ao menos emociona.
Crítica de Invocação do Mal 4: o Último Ritual (2025) | Douglas Esteves Moutinho