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Gladiador II (2024)

Atualizado: 5 de jul.

Um duelo entre o histórico e o ficcional


Ridley Scott sempre se mostrou interessado em representar momentos históricos no cinema. Desde seu primeiro filme, Os Duelistas, ele deu início a uma série de produções ambientadas em diferentes épocas. Embora seja mais conhecido pelas ficções científicas Alien e Blade Runner, Scott dirigiu diversos épicos históricos, como 1492: A Conquista do Paraíso, Gladiador, Cruzada, Robin Hood, Êxodo: Deuses e Reis, O Último Duelo, Napoleão e agora Gladiador II. Apesar de sua carreira oscilante entre bons e maus filmes, é inegável que Scott figura entre os cineastas mais dedicados ao gênero de época. Contudo, seu compromisso com a representação precisa da história foi recentemente questionado durante o lançamento de Napoleão. Vários historiadores criticaram a fidelidade histórica do filme, ao que Scott respondeu com comentários que desvalorizavam o trabalho dos especialistas, alegando, de forma simplista, que não é possível conhecer fatos do passado com precisão, minimizando a contribuição científica desses profissionais.

Gladiador II | Crítica

Não pretendo debater aqui a infelicidade dessas afirmações, mas a questão abre uma discussão interessante à luz de Gladiador II: até que ponto um filme deve ser fiel à história? Desde o nascimento do cinema, teóricos levantam essa questão, mas foi nos anos 1970 que o francês Marc Ferro consolidou uma abordagem para a análise de filmes históricos, propondo que devemos lê-los de duas maneiras: como uma representação da época retratada e como uma obra que reflete a própria época de sua produção. No caso de Scott, é claro que a intenção não é reproduzir os eventos históricos com precisão, mas sim proporcionar uma experiência de entretenimento, amparada por uma considerável "licença poética", onde o contexto histórico serve apenas como cenário para a narrativa. Essa abordagem já estava presente no primeiro Gladiador, que tomou certas liberdades em relação à biografia de personagens e costumes da época. Em Gladiador II, Scott parece ter se entregado totalmente à liberdade narrativa, ignorando a precisão histórica e focando no entretenimento, o que resultou em exageros como tubarões no Coliseu, babuínos exóticos e incoerências nos figurinos, entre outros desvios menos evidentes.

Gladiador II | Crítica

Ao final, Gladiador II cumpre o que Scott se propôs a fazer: entregar um filme de época vibrante e tecnicamente bem-produzido. Se deixarmos de lado as imprecisões históricas, o filme proporciona um espetáculo empolgante, com boas referências ao primeiro Gladiador, uma trilha sonora envolvente e uma Roma visualmente impressionante. Além disso, assistir a megaproduções épicas nos cinemas geralmente é uma experiência visual incrível. Particularmente, apreciei acompanhar a trajetória de Lúcio, filho de Maximus, em Gladiador II. Filmes desse gênero estão em crise e são não apenas divertidos, mas também oportunos para reflexões historiográficas. Além disso, somos um país de origem latina, herdeiros culturais de Roma, e é fundamental conhecermos mais sobre as raízes da nossa cultura.

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