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Faça Ela Voltar (2025)

O horror do luto


Em Faça Ela Voltar, acompanhamos dois irmãos, Andy e Piper, recém-órfãos, alocados em um lar adotivo após descobrirem o pai morto no banheiro de casa. Sob os cuidados de Laura, uma mulher excêntrica e isolada do mundo urbano e que também acolhe um jovem mudo chamado Oliver os irmãos adentram não apenas uma nova moradia, mas um espaço carregado de silêncios, mistérios e simbolismos. À medida que o enredo se desenrola, o que parecia ser apenas um novo início revela-se um caminho tortuoso marcado por rituais, revelações e um mergulho no abismo psicológico do luto.


Faça Ela Voltar (2025) | CRÍTICA

Faça Ela Voltar se alinha a uma tendência recente do cinema de terror contemporâneo. Menos interessado em construir mitologias coesas ou oferecer explicações verossímeis, o filme aposta em uma experiência sensorial que se sustenta na ambiguidade e no desconforto. O terror aqui não é apenas narrativo; ele é atmosférico, corporal, quase tátil. A ausência deliberada de respostas convida o espectador à confusão não como falha, mas como dispositivo estético. Não sabemos exatamente com o que estamos lidando, e é justamente aí que reside a força do filme. Esse tipo de abordagem, que dispensa a tradicional necessidade de esclarecer a lógica interna dos eventos sobrenaturais ou traumáticos, dialoga com uma percepção mais madura do cinema enquanto arte visual, e não meramente narrativa. Herdeiro da literatura em muitos aspectos, o cinema durante décadas carregou a obrigação de "explicar" seu mundo, de tornar crível o impossível. No entanto, Faça Ela Voltar insere-se em uma linhagem que recusa essa herança, construindo seu terror através da imagem, atmosfera, ruído e silêncio, olhar e gesto.

Nesse sentido, o longa utiliza com competência um repertório visual já bastante consolidado no gênero os enquadramentos fechados, a câmera inquieta, os movimentos sutis que induzem à claustrofobia. Embora essa forma de filmar venha sendo amplamente explorada por obras de terror psicológico ou pós-horror na última década,

Faça Ela Voltar a incorpora com eficácia.

No entanto, talvez o aspecto mais interessante do filme seja sua abordagem do luto como força desestabilizadora. A morte é o evento-motriz, mas é sobretudo o luto mal resolvido que transforma o espaço doméstico em cenário de horror.

Assim, Faça Ela Voltar é uma proposta de experiência. Ao fim, o que resta não é tanto a lembrança de uma história contada, mas a permanência de uma sensação: inquieta, opaca, difícil de dissipar. E talvez seja esse o maior mérito de um bom terror contemporâneo não nos contar uma história, mas nos deixar habitando-a, mesmo depois que a tela se apaga.


Faça Ela Voltar (2025) | CRÍTICA

 
 

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