Demon Slayer: Castelo Infinito (2025)
- Douglas Moutinho
- 21 de set.
- 3 min de leitura
Entre o sublime e o existencial
Demon Slayer: Castelo Infinito é a continuação direta da aclamada série Demon Slayer, retomando a história exatamente de onde a temporada anterior parou. O filme, com quase três horas de duração, impressiona não só pelo tempo de tela raro em animações do gênero, mas também pela profundidade com que desenvolve seus temas. Entretanto, um elemento chama atenção de forma controversa: sua classificação indicativa para maiores de 18 anos. Embora o filme contenha cenas de violência típicas de um shonen, trata-se ainda de uma animação que, mesmo em seus momentos mais intensos, permanece dentro dos limites narrativos e estéticos do gênero. A censura, nesse caso, não se apoia em fundamentos sólidos, mas sim em uma concepção contemporânea de proteção infanto-juvenil que carece de embasamento científico e ignora os avanços nos debates sobre o impacto negativo da superproteção no desenvolvimento psicológico.

Curiosamente, é justamente a complexidade temática da obra que mais poderia beneficiar o público jovem. Castelo Infinito não se limita à ação ou ao espetáculo visual que, como sempre, é primoroso , mas mergulha em subtramas que ampliam a narrativa para além do bem contra o mal. O filme reforça valores clássicos do shonen, como coragem, amizade, família e lealdade, mas vai além ao abordar dilemas existenciais com densidade incomum.
O mal, aqui, é absoluto encarnado em Muzan Kibutsuji. No entanto, o que mais assusta não é sua força, mas sua influência sobre os demais. Os demônios que o servem são apresentados, num primeiro momento, como marionetes violentas e letais. Ainda assim, Demon Slayer investe na humanização desses antagonistas ao explorar seus passados. Um desses flashbacks, em especial, possui tal riqueza emocional e narrativa que poderia sustentar um filme próprio, inclusive pela sua duração.
É nesse ponto que o longa atinge sua maior profundidade. Ao investir nas subtramas e nos dramas internos de seus personagens, Castelo Infinito aborda temas como o niilismo, o luto, a morte e a moralidade com maturidade e sensibilidade. A obra transforma personagens secundários em protagonistas momentâneos, sem perder o ritmo ou a coesão narrativa.
O cenário também ganha destaque e se torna parte ativa da narrativa. Controlado pelo Lua Superior Número 4, o Castelo Infinito funciona como um personagem à parte mutável, imprevisível, quase vivo. Seus espaços se transformam à medida que a história avança, mas nunca de forma explícita: as mudanças ocorrem sem anúncio ou explicação, contribuindo para a atmosfera de mistério e desorientação. Essa instabilidade espacial reforça o estado emocional dos personagens e acentua a tensão dramática em cada confronto.
Outro destaque vai para a trilha sonora, que permanece fantástica. A música atua não apenas como complemento, mas como intensificador dramático, alternando-se com momentos de silêncio cuidadosamente inseridos, que amplificam a expectativa, a tensão e o mistério uma escolha que demonstra sofisticação estética e pleno domínio do tempo narrativo.
Demon Slayer: Castelo Infinito reafirma que animes podem, sim, ser veículos legítimos para discutir questões humanas profundas, sem abrir mão do entretenimento. Trata-se de uma animação que combina ação de alto nível, riqueza estética e densidade filosófica, configurando-se como uma das produções mais ambiciosas e bem-executadas do gênero. Sua classificação etária, infelizmente, revela mais sobre os equívocos contemporâneos na regulação de mídia do que sobre o conteúdo da obra em si.
Crítica de Demon Slayer: Castelo Infinito (2025) | Douglas Esteves Moutinho