Espiral: O Legado de Jogos Mortais (2021)
- Douglas Moutinho
- 14 de dez. de 2022
- 4 min de leitura
Atualizado: 10 de set. de 2024
Um recomeço que falha em inovar
É um recomeço digno para a franquia, embora ela não se estabeleça como algo novo propriamente dito.
Spiral: from the Book of Saw é um filme de 2021 dirigido por Darren Lynn Bousman do gênero terror e suspense, e que funciona como uma nova entrada para a franquia já consagrada Jogos Mortais, criada por James Wan e Leight Whannell, tendo estreado com o curta Saw (2003) e com o longa Jogos Mortais (2004).
Depois de um novo hiato, a franquia retorna com um nono filme, que como a maioria dos anteriores, não se encontra no mesmo nível do primeiro longa, que contava com uma montagem moderna que encaixava as peças do quebra-cabeças narrativo de forma muito interessante e um plot twist inesquecível. Depois do primeiro filme, as reviravoltas começaram a se tornar um pouco mais facilitadas e mirabolantes e o apelo de filme se tornou cada vez mais a violência das armadilhas. Embora vários elementos fílmicos foram ficando para trás ao longo da franquia, ela ainda manteve um ótimo nível de entretenimento para o público que gosta do cinema gore, respeitando, de certa forma, o legado do primeiro filme.

Há então o primeiro retorno da franquia. Jogos Mortais: Jigsaw é finalmente lançado em 2017, quase uma década depois do sétimo filme da franquia, que se estabelecia como a sua parte final. Jigsaw apresentou uma narrativa simples, esquecível e com armadilhas muito abaixo das anteriores, tanto na criatividade como na sanguinolência, decepcionando grande parte dos fãs da franquia.
Nesse cenário surge Espiral: o Legado de Jogos Mortais, trazendo um recomeço para a série e apresentando um novo serial killer. É o primeiro filme em que Tobin Bell, intérprete de John Kramer, o Jigsaw, não aparece além de em fotos. Isso somado ao fato do “mascote” do filme não ser mais o clássico boneco com as espirais na bochechas, dando lugar a um porco (que aparece frequentemente nos filmes anteriores como máscara) deixa clara a intenção da produção em continuar a franquia, mas respeitando um começo legítimo, se desvinculando em certos aspectos dos longas anteriores.

Como todos os filmes da franquia, Espiral também funciona como um bom entretenimento, trazendo certa ação, suspense, momentos de tensão e armadilhas que tentam fazer recordas as clássicas, embora o filme tenha falhado nesse aspecto. Apesar do longa contar com alguns facilitadores no roteiro, isso não atrapalha a experiência. Tais facilitadores sempre estiveram presentes na saga, o que é normal, tendo em vista que os filmes passaram a acompanhar diversos eixos narrativos e tais facilitações ajudaram a conectar esses eixos de forma bastante coerente. O problema aqui é que o filme inicial da nova fase já apresenta isso, diferentemente do filme de 2004. A direção de Bousmann segue o modelo já clássico dos filmes. A edição segue uma receita: a cada armadilha, a cena é iniciada com um superclose nos olhos da personagem que está a mercê dela; em seguida, alguns planos detalhe revelam características importantes do aparato no qual essa personagem está inserida; então, em um plano mais aberto, é revelado todo o cenário com a personagem dentro de todo o maquinismo que compõe a cena e a armadilhas; até que por fim o corte então é direcionado em close close para a “personagem narradora”, que formaliza as diretrizes e regras do jogo. Além disso, todo o filme prepara o espectador para o plot twist final, como também acontece em todos os longas da franquia.
Quanto a sequência propriamente dita, o filme não se estabelece como um “sucessor espiritual”, mas sim como uma continuação direta. Embora o filme tenha mudado o nome de Saw para Spiral, ainda mantém Saw no subtítulo; o assassino é estabelecido como um imitador de Jigsaw, que inclusive está presente em fotos; o porco, ainda que menos importante nos filmes anteriores, está presente. Dessa forma, se fazia necessária a presença (ou ao menos uma explicação) do sucessor de Jigsaw, Gordon, que ainda se encontrava vivo no sétimo filme.

No fundo, há uma confusão. O filme não se decide ser uma continuação ou não. Enquanto os símbolos são modificados, a estrutura narrativa e a forma do filme são as mesmas já vistas, inclusive apelando para um extremamente desnecessário fan service, na cena em que o personagem de Chris Rock acorda preso com algemas e com um serrote ao seu lado, remetendo ao primeiro filme. Nada acrescentou, pois aquilo nem era uma armadilha, se tornando completamente desnecessário, uma necessidade de causar certa nostalgia nos fãs.
A questão crítica social sempre foi comum na franquia, muitas vezes abordando determinado tipo de hipocrisia. Tal acepção se faz presente também em Espiral, quando é abordada a questão da corrupção policial. O que particularmente me impressionou foi o filme não se utilizar de questões sociais que estão na moda para o seu roteiro. Pelo contrário, a crítica foi genuína e pertinente.
No montante, Espiral: o Legado de Jogos Mortais é um filme bastante interessante que agradará aos fãs antigos e novos espectadores. É um recomeço digno para a franquia, embora ela não se estabeleça como algo novo propriamente dito. É o típico mais do mesmo, mas como o mesmo é, ao menos, visualmente interessante, o filme se torna uma boa opção para quem gosta de suspense e terror.




