A Vida de Chuck (2025)
- Douglas Moutinho
- 6 de set.
- 2 min de leitura
a dança cósmica da existência
A Vida de Chuck não é apenas um filme sobre a vida de um homem; é uma meditação poética sobre a passagem do tempo, a beleza das memórias e a inevitabilidade da morte. Baseado em uma das histórias do livro Com Sangue, de Stephen King, o longa marca um ponto de virada na carreira de Mike Flanagan, mais conhecido por seus trabalhos no terror. Aqui, ele deixa os sustos de lado para abraçar o drama existencial com um toque metafísico.
Narrado de forma não linear e dividido em três partes – começando pelo fim – o filme nos convida a conhecer Charles "Chuck" Krantz (interpretado por Tom Hiddleston) a partir de sua morte precoce, e então retrocede para explorar os momentos que moldaram sua vida. O espectador é lançado no meio de um mundo que está acabando, enquanto mensagens de agradecimento a Chuck surgem misteriosamente. O que poderia parecer apenas mais uma narrativa apocalíptica logo se transforma em algo muito mais íntimo e filosófico.

O filme tem uma abordagem anímica quase sinfônica. Os personagens dançam ao ritmo da existência, embalados por referências que vão de Carl Sagan ao poeta Walt Whitman. O calendário cósmico de Sagan aparece não apenas como um detalhe curioso, mas como uma âncora temática: a vida humana, ínfima diante da vastidão do universo, ainda assim é repleta de beleza, significado e impacto.
Flanagan opta por uma construção narrativa que exige atenção: a memória de Chuck opera de forma associativa, e o filme se constrói como um mosaico de lembranças, sensações e símbolos. São essas referências internas, muitas vezes sutis, que enriquecem o enredo – e também o tornam desafiador. Para quem espera uma história linear e objetiva, A Vida de Chuck pode soar confuso ou mesmo hermético. Mas para os que se entregarem à experiência, o resultado tende a ser comovente.
Ainda envolto em méritos, o filme não é isento de falhas. Em alguns momentos, Flanagan parece confiar demais na narração em off para conduzir o público. Essa escolha, embora tenha um propósito emocional, acaba por enfraquecer o poder da imagem – elemento mais essencial do cinema. A sensação é de que o roteiro não confia completamente na força visual da própria obra, e por isso recorre à palavra como explicação. Esse excesso de verbalização quebra, por vezes, o encanto que o filme tenta construir com suas metáforas e atmosferas.
Mesmo assim, A Vida de Chuck se destaca como uma obra ousada e criativa, que usa a linguagem do cinema para refletir sobre os mistérios da existência humana. Com uma performance sensível de todo o elenco, uma trilha sonora envolvente e uma direção que aposta na emoção, Flanagan entrega talvez seu melhor trabalho até agora. Em um tempo em que tantos filmes buscam respostas fáceis e narrativas fechadas, A Vida de Chuck oferece o oposto: um convite à contemplação, uma celebração das pequenas coisas e uma dança delicada com a morte – que, no fim das contas, é apenas outra forma de falar sobre a vida.
Crítica de A Vida de Chuck (2025)




