A Forja: o Poder da Transformação (2024)
- Douglas Moutinho
- 19 de out. de 2024
- 2 min de leitura
Evangelização e limitação
Não é segredo que estamos imersos em uma guerra de discursos e ideologias, muitas vezes simplificados a ponto de se tornarem reducionistas e improdutivos. Esses discursos são frequentemente moldados para gerar frases de efeito, orientadas não para um verdadeiro diálogo ou entendimento, mas para alcançar uma suposta — e ilusória — vitória retórica. Hollywood, com sua capacidade de absorver e amplificar tendências sociais, transforma essas questões em potenciais fontes de lucro, revestindo-as de uma superficial preocupação com grupos marginalizados ou discriminados. O resultado são filmes que se apresentam como críticas sociais, mas que, na verdade, são respostas oportunistas a modismos que surgem e desaparecem a cada nova onda de viralização nas redes sociais. Nesse cenário, é surpreendente e digno de nota quando uma produção abertamente evangélica consegue se destacar nas bilheterias do país, rompendo com esse padrão.
Esse é precisamente o caso de A Forja, o filme que está atualmente em evidência. Assumindo desde o início uma proposta evangelizadora, a obra se destaca por sua narrativa inspiradora, centrada em temas como superação, conversão, bondade, caridade e o poder transformador da comunidade. O filme narra a trajetória de Isaiah, um jovem desmotivado e viciado em jogos, que vive com sua mãe e precisa transformar sua vida tanto pessoal quanto profissionalmente. Essa jornada de mudança é impulsionada pela figura de Joshua, um homem bem-sucedido que se torna um guia e referência para Isaiah.

Sob a direção de Alex Kendrick — que acumula também os papéis de ator, escritor, produtor e pastor batista —, o filme revela, por vezes, uma execução técnica limitada, assumindo um tom que pode ser interpretado como mais propagandístico do que artístico. Embora a história ofereça um potencial narrativo envolvente, sua construção narrativa peca pela falta de sutileza, com diálogos excessivamente explicativos e uma insistência em verbalizar orações e sermões. Vale lembrar que o cinema, como uma arte visual, encontra sua maior força em comunicar ideias e emoções através das imagens, e a dependência exagerada da fala enfraquece esse poder.

Apesar das limitações no roteiro e na direção, A Forja compensa esses pontos com suas atuações convincentes. Aspen Kennedy, Priscilla C. Shirer e Cameron Arnett conduzem a narrativa com grande intensidade, conferindo profundidade aos seus personagens e enriquecendo a experiência do espectador. Em última análise, o filme é uma obra leve e inspiradora, repleta de exemplos de boas ações e valores que, se seguidos, poderiam contribuir para um mundo melhor. Ele destaca virtudes humanas fundamentais, transcendendo os limites da religião, ao promover um apelo aos bons costumes e à ética que toca a todos, independentemente de crenças religiosas.




