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Thunderbolts* (2025)

Desgaste e reinvenção no cinema de heróis


Nos últimos anos, o gênero cinematográfico dos super-heróis tem enfrentado um visível processo de saturação narrativa e estética. Esse cenário tem ensejado um movimento crescente de sátiras metalinguísticas, que refletem o desgaste cultural do subgênero e a necessidade de sua reinvenção.

Thunderbolts*

Em meio a essa crise , observa-se que os poucos filmes que obtêm maior repercussão crítica ou comercial tendem a se apoiar fortemente no fan service, como forma de manter o vínculo emocional com um público já fidelizado. Mesmo tentativas pontuais da Marvel de oferecer abordagens minimamente distintas acabam, em muitos casos, sendo sucedidas por obras genéricas, cujo propósito parece ser o de assegurar um entretenimento seguro e amplamente palatável.

É nesse contexto que se insere Thunderbolts. O filme apresenta um grupo de heróis não convencionais, cujas trajetórias são marcadas por passados moralmente ambíguos e por limitações de poder que os afastam do arquétipo tradicional do super-herói invulnerável. A narrativa, assim, é estruturada em torno da superação coletiva desses sujeitos disfuncionais, reiterando uma lógica de crescimento por meio da união. Visualmente, Thunderbolts aposta em uma estética deliberadamente desaturada e melancólica. A direção opta por uma paleta monocromática e um ritmo mais contido, que reforçam o caráter introspectivo das personagens. Em contraste com o tom cômico e verborrágico que se tornou quase uma marca registrada do estúdio, este filme adota uma abordagem mais contida, o que confere coerência dramática à sua proposta.

Thunderbolts*

Trata-se, portanto, de uma obra que, embora modesta em sua ambição estética, revela-se significativa justamente por romper com os excessos espetaculares que caracterizaram a franquia nas últimas fases. A contenção narrativa de Thunderbolts não implica ausência de impacto, mas sim um deslocamento de foco: da grandiosidade artificial à densidade emocional. Ao apresentar personagens marcadamente traumatizados e mais próximos da fragilidade humana, o filme oferece uma experiência de identificação mais complexa, o que pode explicar sua acolhida positiva junto ao público.

Em síntese, Thunderbolts pode ser compreendido como um esforço de reconfiguração interna do próprio gênero a que pertence um indício de que a vitalidade do cinema de super-heróis, embora abalada, ainda é capaz de produzir gestos de reinvenção relevantes.

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